São Luís recebe picadeiro de marionetes no último ato do “Grande Circo Grandevo”
A atividade ocorreu nos dias 7, 8 e 9 de junho, fechando a turnê nacional da companhia Pequeno Teatro do Mundo, que comemorou os dez anos de existência do grupo
Após percorrer nove estados brasileiros e emocionar plateias de todas as idades, o circo de marionetes criado pelo casal Fábio Retti e Fabiana Barbosa encontrou em São Luís (MA) uma plateia que não apenas assistiu, mas sentiu — com os olhos, os ouvidos e o coração. Fundadores da companhia Pequeno Teatro do Mundo, de Bragança Paulista (SP), eles encenaram o espetáculo “Grande Circo Grandevo” nos dias 7, 8 e 9 de junho, com oficina e apresentação aberta ao público no sábado (7) e agenda fechada a idosos e alunos da rede pública no domingo (8) e na segunda-feira (9).
No sábado (7), a magia começou cedo no bairro Sá Viana. Uma oficina de manipulação de marionetes reuniu crianças curiosas e adultos na União dos Moradores. A atriz Fabiana Barbosa conduziu a atividade de forma lúdica, explicando o funcionamento das articulações e movimentos dos bonecos. “Pensei que era mais pesado, mais difícil, mas é mais leve do que eu pensei”, contou Raíssa Vitória, de 19 anos. Já Diogo, de 9, revelou sua conexão com um dos personagens. “Gostei mais do Seu Theófilo porque ele é mágico e parece com o meu avô”, comentou o garoto, sorrindo.
À noite, um cortejo conduziu o público até o mini circo montado em palco no fim da Rua Cônego Ribamar Carvalho. Quando as luzes se acenderam e a música circense começou a tocar, o picadeiro do “Grande Circo Grandevo” revelou seu trio de artistas idosos: Oswaldo, o palhaço; Theófilo, o mágico; e Suzete, a trapezista e mulher-bala. Com humor, os bonecos interpretaram a vida no picadeiro e falaram sobre envelhecer sem perder o brilho. Ao fundo, intérprete de Libras e audiodescrição garantiam que ninguém ficasse de fora do espetáculo.
“Antes da deficiência, tem a pessoa”, disse Vilson Riggs, deficiente visual que acompanhou a agenda. “E a cultura deve ser para todos”, acrescentou. Na primeira fileira, Sandra Sousa segurava um boneco de fantoche que ela mesma havia feito: “Vim do Centro só pra ver esse grande pequeno circo de perto”. Para o artista maranhense Gilson César, que assistia à apresentação, o projeto representa algo raro: “Trazer teatro de bonecos para a comunidade é um o para melhorar a educação, a autoestima e a transformação social”.
No domingo (8), o palco portátil se deslocou para o Asilo de Mendicidade. No salão principal, a plateia de idosos vibrou com as acrobacias da marionete Suzete. A professora aposentada Ana Lúcia Ramos, de 67 anos, se emocionou: “Me trouxe muitas memórias. Foi como voltar a ser criança”, disse, com lágrimas no rosto. “Eles lembram do ado e isso traz muita alegria”, completou a cuidadora Roseane.
Na segunda-feira (9), o fim da trupe de marionetes chegou ao auditório do Centro de Ensino Estado do Rio Grande do Norte, onde cerca de 100 alunos vibraram com as peripécias do trio marionetista. Rafaela, aluna autista com 12 anos de idade, bateu palmas, sorriu e interagiu com o espetáculo do início ao fim. A gestora da escola, Kalyanne Moura, emocionada, afirmou: “Ela vibrava o tempo todo. Só ela já valeu tudo”. O aluno Amós Lucas, de 12 anos, resumiu: “Aprendi a não desprezar os mais velhos. Gostei muito. A Suzete é muito corajosa”.
O encerramento do espetáculo, com duração de cerca de 40 minutos, veio em forma de paródia: uma música que falava sobre os limites da velhice sem medo algum de enfrentá-los. “Envelhecer não vai me incomodar”, finalizou Theófilo.
Ao final, os criadores celebraram, emocionados, o fim da turnê que ou por Guararema (SP), Quissamã (RJ), São Mateus (ES), Itabuna (BA), Aracaju (SE), Maceió (AL), Ipojuca (PE), Guamaré (RN), São Gonçalo do Amarante (CE), até finalizar em São Luís (MA). “Percorremos escolas, asilos e praças. Estar aqui agora é muito emocionante. Fizemos tudo do zero, desde a ideia até hoje, com mais de 25 pessoas envolvidas desde a produção”, disse Fabiana.
Com patrocínio da Transpetro e realização do Ministério da Cultura, o projeto encerrou sua jornada de 30 apresentações em dez estados do país. “Que essa seja apenas a primeira de muitas turnês. A companhia cresceu, e agora está pronta para voar ainda mais longe”, ponderou Fábio.